O
evento chamado de FSTemático foi realizado em Porto Alegre de 19 a 23 de
janeiro de 2016.
Fiquei
quase uma semana em Porto Alegre-RS participando do Fórum Social Temático. Além do aprendizado com grandes pessoas de
várias partes do mundo que defendem uma esquerda autêntica, a convivência no
ônibus e nos eventos juntos me faz lembrar de todos os companheiros de viagem.
Preciso
agradecer o acolhimento que tive por parte das organizadoras da viagem (região
de Campo Mourão) do Sindicato dos
Bancários , (Leonice Cazarin e Nivalda Sguissardi Roy). Agradecimentos
especiais a todo grupo da viagem que foi fantástico. Camaradas, companheiros,
engraçados. Rimos muito também. Um grande beijo no coração de todo o povo do
Sindicato dos Bancários das regiões de Umuarama, Guarapuava e Curitiba. Também
para minha colega de Unespar Luciani
Wolf e a outra não bancária, Sonia Castro Singer - Secretária da Cultura de
Campo Mourão-PR, todos os professores da APP em especial o colega de quarto
Carlos Roberto de Oliveira de Peabiru-PR, E todos os estudantes nossos que lá
estavam e a duas representantes do MLT. Destaco que fiquei em hotel mas vários companheiros ficaram no acampamento e lá eu soube que o espírito solidário era muito forte e tudo o que era possível ser dividido, se fazia com muito gosto.
Só quem participa do evento tem noção da
diversidade de grupos, todos com pensamento de esquerda, uns mais outros menos.
Pelas fotos da mobilização do primeiro dia dá para perceber isso. E havia muita
gente lá, com certeza.
Fora as palestras, houve também as
oficinas em todo o canto e muita cultura, música, arte, poesias etc. Todo tipo
de manifestação possível e era naturalmente impossível assistir a tudo e quando
os horários de duas programações excelentes batiam, era o coração que sofria.
Tive a honra de tirar foto ao lado do ex
governador do Rio Grande do Sul Olívio Dutra, do ex-Ministro dos Esportes
Orlando Silva, do ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont, do Sr. Odeb Grajew
(idealizador do fórum há 15 anos), do diretor da Itaipu e líder contra a privatização da COPEL Nelton
Miguel Friedrich, do Márcio Pochmann ex presidente do IPEA e do grande sociólogo Boaventura de Souza Santos.
Cada participante teve sua impressão e
com certeza algumas frases chamaram a atenção. Eu vou apontar o que vi e ouvi e
cada internauta participante pode nos seus comentários, destacar suas
impressões se desejar.
Independente da ordem das programações destaco a riqueza e a alegria daquela imensa e
diversificada mobilização e só de ter visto o ex-governador do Rio Grande do
Sul Olívio Dutra à frente já me senti orgulhoso. Ele depois nos outros dias,
foi ovacionado em todo canto que chegava e é um dos políticos mais íntegros e
carismáticos que eu conheço.
Destaco uma frase de um educador popular
do Marrocos se não me engano,que afirmou: o termo “evasão escolar” deveria ser
substituído por “mortalidade escolar”, porque cada criança/jovem nesta situação
morre um pouco socialmente.
O grande destaque de todo o fórum e que
participou de várias programações o sociólogo de Portugal Boaventura de Souza
Santos fez algumas declarações de impacto: disse que todos os educadores
deveriam ser também educados pela educação popular e chegou a exemplificar que
após uma determinada aula, alguém do hip hop deveria transformar aquilo em
letra e na sequência debater e ampliar o aprendizado.
O que ficou marcado para mim foi a
defesa contra o golpe e a perda de mandato da presidenta. Todos lá sabiam que o
tucanos especialmente, que se apresentam hoje com seus “bicos doces” se fazendo
de santos e após serem derrotados na última eleição, dão tiro para todos os
lados como se fossem um “Capitão Nascimento”, tentando encontrar brechas para
derrubar o governo.
As forças de esquerda precisam lutar
como um “gladiador” para isso não acontecer e o Boaventura alertou que a
direita se une facilmente para alcançar o que deseja e a esquerda com seus
vários partidos e segmentos não o fazem e podem perder a batalha. Mas a defesa contra o golpe não significa
passar a mão na cabeça da presidenta. Boaventura usou duas frases marcantes
sobre isso: não devemos ter dúvida de que lado estamos, mas queremos que
estejam do nosso lado. Na outra afirmou diante da Ministra das Mulheres,
Igualdade Racial e Direitos Humanos
Nilma Lino Gomes (que também fez uma bela fala): estamos defendendo o
mandato da Dilma, mas queremos ter motivos para isso.
O recado foi dado por causa da ameaça e
algumas coisas já concretizadas sobre o “facão amolado” dos cortes que
prejudicarão os menos favorecidos. Um exemplo lá no fórum é que com a
“diminuição dos ministérios”, feito
para, na doce ilusão de agradar a direita e os meios de comunicação, pode
impactar na eliminação da Secretaria nacional de economia solidária que vem
fazendo um trabalho extraordinário com as categorias menos favorecidas e no
combate ao capitalismo selvagem.
Tive o orgulho de ser paranaense e ouvir
atentamente cada palavra do senador Roberto Requião.
Ouvi atentamente a fala do querido ex
governador do Rio Grande do Sul Olívio Dutra, após ser ovacionado, dizer com
aquela calma e firmeza, que devemos ter paciência revolucionária. Num ataque às
conveniências eleitorais do governo do PT, afirmou que muitas vezes se avança
mais na derrota do que na vitória. E criticando certos tecnocratas do governo
que nas suas salas refrigeradas ditam a política monetária do país, afirmou:
quantos votos do povo tem os membros do
Conselho Monetário Nacional? Sabe-se que muitos são oriundos de diretorias de
bancos e o aumento da taxa de juros é para saciar a fome dos banqueiros e
aumentar a fome da população.
Assim como uma determinada “peça de
roupa” em alguém pode dar o que falar, vi duas cenas aparentemente singelas que
pareciam não se adequar ao “ambiente da cerimônia”, ou seja, na Câmara de
Vereadores de Porto Alegre-RS, na
entrega do título de cidadão honorário ao sociólogo português Boaventura
de Souza Santos. A cena foi a seguinte: enquanto o vereador falava no púlpito,
uma menininha sua filha talvez, ficou em certos momentos ao lado dele e na mesa
de honra a grande deputada estadual e candidata a prefeita de Porto Alegre
Manuela D’avila – PcdoB estava com o seu bebezinho no colo. Talvez aquilo não
era adequado para o momento na visão de algumas pessoas, mas é muito mais
adequado do que as maracutaias e acordos sinistros que acontecem na maioria das
casas legislativas do país.
Vi a estudante Camila Lanes da União
brasileira dos estudantes secundaristas – UBES falar à platéia com uma
desenvoltura extraordinária, considerando seus apenas 19 anos.
Vi um representante de Cuba ser
aplaudido de pé somente por afirmar que Cuba saúda todos vocês.
Vi Reginaldo Bispo do Movimento Negro do
Brasil afirmar que no Brasil a quantidade de jovens negros mortos por ano é maior
que todas as pessoas que morrem nos países em que há guerra civil.
Vi um cadeirante representante do hip
hop falar parte de duas de suas músicas no meio de um discurso e emocionar a todos.
Assisti a um evento que me interessou
muito em que o tema foi “justiça fiscal para um mundo melhor”. Com as presenças
do Dão Real Pereira dos Santos do Instituto Justiça Fiscal, Grazielle David do Instituto
de Estudos Socioeconômicos – INESC, Vilson Romero da Associação Nacional dos
Auditores Fiscais da Receita Federal – ANFIP e Luiz Martins da Delegacia Sindical
do SINDIFISCO NACIONAL em Salvador. Todos eles confirmaram que a proposta de
mudanças nas alíquotas que o PT vai sugerir ao governo federal é exatamente o
estudo deles e que se for implantado, diminuirá imposto de renda da classe
média e enfim vai tributar melhor quem ganha muito dinheiro neste país e paga
menos proporcionalmente.
Ainda nesta mesa estava a grande estrela,
o economista, professor da Unicamp e ex-presidente do IPEA (Instituto de
Pesquisas Econômicas Aplicadas) Márcio Pochmann. Ele afirmou que a sociedade
precisa ser convencida de que tributo é elemento de cidadania e princípio
civilizatório; que baixa carga tributária não acontece em países desenvolvidos;
que a política deve conduzir a economia e não o contrário; que há cem anos em
que a expectativa de vida da população era de 35 anos, 7% do PIB era suficiente
para os gastos fiscais atualmente haverá pessoas que chegarão aos 100 anos e
isso implicará mais recursos fiscais e problemas sérios para a previdência
social; que um terço dos aposentados continua trabalhando (incluindo quem já
recebe muito bem) e isso não tem sentido econômico e social; que a sociedade
hoje no Brasil acaba sendo violenta, agressiva e depressiva; que temos um
grande problema: os ricos e as grandes empresas quase não pagam impostos; temos
que nos preocupar com a economia ambiental, quem produz mais lixo tem que pagar
por isso, não há outra alternativa de justiça fiscal; não há tributação supra
nacional e há empresas com faturamento maiores que alguns Estados; e para minha
surpresa ele afirmou que os EUA, grande potência mundial vive em constante
processo de apagão (energia, portos etc caminhando para o sucateamento); que a
dívida pública dos EUA saltou de 55% para 111% do PIB. E finalmente que para
mudar o sistema tributário brasileiro, que é regressivo, ou seja, quem ganha
mais paga menos proporcionalmente, é preciso formar novas maiorias na sociedade
e o trabalho é árduo.
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